Um diário escrito com os olhos

Arte, fotografia e texto:

Danilo Salvego

 

Consultoria:

Katerina Volcov / Kelebek

Um relato sobre imagens, sentimentos e acasos registrados por meio da fotografia.

Dezembro de 2014

No ano de 2014 eu levava uma vida relativamente confortável na cidade de Campinas, interior de São Paulo. Minha empresa estava com a agenda lotada, contava com três funcionários e vários projetos encabeçados. Não havia nenhum indício que uma grande mudança estava por vir. Não havia nem espaço para o desejo de mudança. Eu vivia num ambiente de calmaria e normalidade onde a única meta era trabalhar e juntar dinheiro.

Foi em meados de dezembro desse mesmo ano que minha vida pessoal tomou um novo rumo. Meu casamento acabou e com isso minha aparente estabilidade foi-se com ele. Minha vontade de produzir diminuiu drasticamente. Estava paralisado e nada me colocava em movimento. Minha rotina diária se restringia aos afazeres básicos de sobrevivência como comer e dormir. Havia uma tonelada de culpa nas minhas costas por tudo o que estava acontecendo e, por sorte, em um momento de clareza mental, busquei ajuda.

O processo de recuperação se deu de forma natural e espontânea e alguns meses mais tarde identifiquei três pilares que me ajudaram nesse caminho: psicanálise, budismo e um pequeno caderno para anotações diárias. Os dois primeiros fazem parte de uma história para ser contada em outro momento. Já o caderno, objeto precursor desse projeto e uma das principais ferramentas que me auxiliaram a clarear os pensamentos, foi o que me ajudou a desafogar tudo o que estava preso na garganta. Esse caderno me acompanha até hoje.

 O método de escrita diária funciona para mim da seguinte maneira:

  • Escrevo quando quero e quando posso;
  • Escrevo sem pensar na escrita, concentrando-me no que estou sentindo;
  • Não há preocupação com a estética. Espaçamento, linhas ou forma são secundários. O que importa é apenas poder escrever;
  • Não há hora marcada. É importante escrever quando o sentimento está latente.

É curioso perceber como o ego nos conduz em tudo.

Quando comecei a escrever o diário havia uma necessidade enorme de que alguém o lesse e “soubesse da verdade e do sofrimento que eu passava”, quase que como uma nota de suicídio.

Depois de algumas páginas escritas, o pequeno caderno começou a ter uma grande importância no meu cotidiano. Estava com ele em todos os lugares para escrever o que eu não podia falar, ou para ler e entender melhor o que se passava nos dias anteriores.

Pode levar algum tempo para que o diário tenha autonomia e comece a falar a verdade despida de qualquer julgamento externo. Esse momento chega e quando acontece o efeito aparece. A escrita funcionou como um exercício de purificação, revelando fantasmas que me assombravam sem dó.

Hoje raramente o leio, pois já não faz sentido boa parte do que escrevi tempos atrás. Percebi que o ritual é mais eficiente para a escrita do que para a leitura.

Porém, apesar dos possíveis benefícios da escrita pessoal, o pequeno caderno não dava conta de minhas necessidades artísticas. Não sou escritor e o diário não era apropriado para ser divulgado publicamente. Foi quando, em janeiro de 2015, tive a ideia de iniciar uma série de postagens fotográficas no Instagram.

Eis o famoso céu de Brasília. 19 de janeiro de 2015
Campeonato internacional de strogonoff. Adivinha quem ganhou? 24 de janeiro de 2015

Eis o famoso céu de Brasília.

19 de janeiro de 2015

Campeonato internacional de strogonoff. Adivinha quem ganhou?

24 de janeiro de 2015

Selfie-ish 27 de fevereiro de 2015
Larica da madrugada. 22 de março de 2015

Selfie-ish

27 de fevereiro de 2015

Larica da madrugada.

22 de março de 2015

Março de 2015

Essa conta no Instagram começou como tudo o que começa nas redes sociais (ou uma parte dela), ou seja, como uma tentativa de mostrar para outras pessoas que eu estava feliz, acompanhado ou viajando. Não havia padrão estético ou significativo. Era apenas mais um perfil no Instagram com temática adolescente, desferindo indiretas para quem quer que fosse, sobre uma vida medíocre de um recém divorciado. Mesmo assim, enxergo o início desse projeto bastante autêntico e por não haver nenhuma regra visual ou temática, valia tudo: de fotos de pratos de comida às selfies. Era eu sendo eu mesmo tentando descobrir as dinâmicas das imagens que produzia em um ambiente digital sedento por aprovação.

Então no dia 23 de março arrisquei uma leve expressão do que poderia se tornar esse diário imagético.

Fotografei o centro de Campinas e escrevi: “Sempre centro”.

Há uma magia nos grandes centros das cidades que me encanta e quando caminho entre suas ruas estreitas e cheias de barulhos e pessoas, apenas um desejo me consome - que você possa ver e ouvir o que eu estou vendo e ouvindo.

A frase que acompanhava a foto era uma tentativa, quase frustrada, de compor com palavras da mesma forma que estava acostumado compor com imagens. O risco se limitava às similaridades sonoras entre as duas palavras escolhidas que representavam a imagem e minhas sensações. “Sempre centro” é um esforço poético ingênuo, mas para mim, um grande passo em direção ao refinamento de minhas expressões artísticas.

A postagem recebeu sete likes.

Sempre centro 23 de março de 2015

Sempre centro

23 de março de 2015

Abril de 2015

A segunda tentativa de me afastar desse padrão Facebookiano, com imagens cheias de indiretas e flertes velados na busca por likes e comentários, aconteceu quase um mês depois, no dia 20 de abril.

Após minha separação, pela primeira vez me apaixonei por uma garota que conheci na cidade de São Paulo. A imagem publicada no dia era acompanhada da palavra “Mergulha” e tinha como objeto principal a fotografia de uma escada que levava a um fundo escuro. Na época, lera um artigo que tratava de mergulhadores de apneia, técnicas de respiração e como eles precisavam calcular o oxigênio necessário, não apenas para o mergulho, mas também para a volta à superfície.

Essa fotografia é um marco porque não havia pessoas marcadas, nem menções a conceitos de amor ou paixão. Mas havia dentro de mim uma necessidade gigantesca de expressar o que estava sentindo e dizer de alguma forma que estava mergulhando e aparentemente não sabia a fórmula para calcular o oxigênio suficiente. A imagem também recebeu sete likes.

Mergulha 20 de abril de 2015

Mergulha

20 de abril de 2015

Maio de 2015

Em meados de maio passei pela minha primeira provação esbarrando com a minha ex-esposa num bar que costumávamos frequentar juntos. Passamos a noite conversando, trocando novidades, planos e reescrevendo sentimentos. No diário escrito iniciava-se um novo capítulo, onde as dores e feridas do passado abriam caminhos para o perdão mútuo e boas lembranças de nossa história. No diário fotográfico a imagem “Capítulo” foi divulgada apenas no dia 10 de junho e recebeu quatro likes.

Capítulo 10 de junho de 2015

Capítulo

10 de junho de 2015

Os olhos são treinados no escuro.

2 de julho de 2015

A primeira grande viagem

Julho de 2015

Alguém um dia me disse que uma longa viagem cura todas as feridas. Eu nunca tinha ficado muito tempo longe de casa e, em julho de 2015, resolvi passar um mês na casa de uma amiga que mora na Alemanha.

Acompanhado de um amigo de faculdade, partimos em direção à pequena cidade de Weimar, que fica a três horas de Berlim. Foi durante essa viagem que o diário fotográfico se consolidou com propósito e forma pela primeira vez. Agora havia regras e formatos que eu mesmo criara, para seguir: no máximo uma imagem por dia, todas feitas com o celular, acompanhada por uma palavra, frase ou citação que representasse o principal sentimento do dia.

Essas referências foram importantes na confecção do diário fotográfico, pois deu direção à minha busca imagética. Nessa ocasião, mudei a descrição da conta para “Um diário pessoal sobre sentimentos, formas e acasos”, que acabei traduzindo para o inglês depois de um tempo por conta de seguidores de outros países que o perfil contabilizava.

Durante essa viagem publiquei 30 imagens feitas na Alemanha, República Checa e França, com sentimentos que transitavam entre euforia e total solidão. Postagens como “Aqui é lá”, “Fica”, “Partir é chegar” e “Volta” mostravam minha batalha entre adotar outro país como lar ou voltar para casa onde toda minha história estava.

Passagem 28 de junho de 2015

Passagem

28 de junho de 2015

Aqui é lá. 7 de julho de 2015

Aqui é lá.

7 de julho de 2015

Partir é chegar. 12 de julho de 2015
Volta 13 de julho de 2015

Partir é chegar.

12 de julho de 2015

Volta

13 de julho de 2015

A foto que mais recebeu likes nesse período foi “O fim é o começo”, do Portão de Brandemburgo, localizado em Berlim, totalizando 20 curtidas dos meus seguidores.

Nesse ponto percebi que as imagens que postava também eram incitadas pelo maior número de likes. Havia um quê de satisfazer meu lado narcísico por mais curtidas.

Como uma droga viciante, tais likes pareciam conduzir a forma e o conteúdo de minha produção, sendo esse um caminho que não havia inicialmente pensado em percorrer.

O fim é o começo. 14 de julho de 2015

O fim é o começo.

14 de julho de 2015

Obra

22 de agosto de 2015

O retorno e a normalidade

Agosto de 2015

Depois de retornar da Europa, sobrou em meu celular um punhado de imagens que não publiquei. Como só poderia publicar uma única foto por dia, decidi que algumas delas poderiam ser reservadas para serem publicadas posteriormente. Por isso acabei criando um banco de fotos não publicadas que serviria no futuro como fonte de inspiração e que desse conta dos meus sentimentos, independente de eu as ter produzido no dia da publicação ou não.

Então, mesmo após ter retornado, continuei publicando algumas fotografias que havia feito na Europa e isso fez com que eu entendesse ainda mais o funcionamento das redes sociais: publicar uma foto de um outro país quase sempre significava que você estava no local. Algumas pessoas pensavam que eu estava viajando há meses e nunca voltara para o Brasil. Outros achavam que eu estava constantemente me mudando, pois publicava imagens de cidades diferentes todos os dias.

Não havia motivos para eu justificar a todos onde eu estava. Eram apenas fotografias e não atualizações de minha localização ou o quê estava fazendo. De qualquer forma, esse banco de imagens se tornou minha principal fonte de inspiração diária para desafogar minha expressão artística.

Algumas das 596 imagens que nunca foram publicadas.

Vai

11 de dezembro de 2015

Assumindo um risco maior: a foto e o ato da escrita

Dezembro de 2015

Ainda em dezembro de 2015, apareceu a oportunidade de cursar um workshop rápido de escrita criativa. O curso incentivava a produção de pequenos poemas em 60 segundos. Curiosamente eu já estava um pouco familiarizado com esse formato, por conta do meu diário escrito. Mas nesse caso, os poemas deveriam contemplar minimamente uma estrutura criativa, dotados de rimas e metáforas.

O workshop não só impulsionou minha escrita, mas também sua exposição. Houve exercícios para que lêssemos o que havíamos escrito. E tudo isso me deixou um pouco mais confiante para começar a escrever sobre as imagens que estava produzindo. Algumas delas, por exemplo, não comportavam apenas uma única palavra. Era necessário um pouco mais. Citações, apesar de eficientes, eram soluções pobres e preguiçosas. Eu queria escrever minhas próprias frases e textos. Desse modo, comecei a me arriscar e a me expor mais por meio de minha própria produção textual, prática essa que utilizei até os últimos momentos desse projeto.

Da mesma forma que eu possuía um banco de imagens para publicações futuras, comecei também escrever rápidas passagens textuais e aguardava o momento certo de publicá-las: como muitas fotos, mais da metade desses textos ficaram sem ver a luz do dia.

Nunca tive pretensão em conquistar um público com meus pequenos textos e frases. O workshop só me deu a confiança necessária para que eu escrevesse sem o medo do julgamento de meus seguidores nas redes sociais.

Dentre algumas tentativas, uma pequena parcela vingou com eficiência a ponto de citá-las aqui, me deixando satisfeito em seu propósito.

Queria poder um dia caminhar entre poesia. 7 de maio de 2016
Os poros foram feitos para nos lembrar dos toques. 11 de junho de 2016

Queria poder um dia caminhar entre poesia.

7 de maio de 2016

Os poros foram feitos para nos lembrar dos toques.

11 de junho de 2016

Enquanto isso chovia lá fora. 24 de julho de 2016

Enquanto isso chovia lá fora.

24 de julho de 2016

Aguardou por um longo tempo o trem chegar, mas decidiu não embarcar. 27 de julho de 2016
Sentiu sobre sua cabeça uma nuvem tão pesada que começou a chover antes das gotas caírem. 4 de agosto de 2016

Aguardou por um longo tempo o trem chegar, mas decidiu não embarcar.

27 de julho de 2016

Sentiu sobre sua cabeça uma nuvem tão pesada que começou a chover antes das gotas caírem.

4 de agosto de 2016

Entrou e olhou com calma cada detalhe. Deu carinho, cuidou, catalogou. Viu o que era importante e relembrou. Vestiu roupas velhas...

Entrou e olhou com calma cada detalhe.

Deu carinho, cuidou, catalogou.

Viu o que era importante e relembrou.

Vestiu roupas velhas, abriu caixas, sentiu cheiros.

Sorriu para fotos, releu cartas e se aqueceu em palavras.

Olhou pela última vez, fechou a porta e partiu.

18 de agosto de 2016

São os lugares que escrevem as nossas histórias. 6 de novembro de 2016
Uma linha de concreto cortou o céu. 7 de novembro de 2016

São os lugares que escrevem as nossas histórias.

6 de novembro de 2016

Uma linha de concreto cortou o céu.

7 de novembro de 2016

E então ela enxergou através de mim. 20 de novembro de 2016
O que é meu não é meu. 13 de dezembro de 2016

E então ela enxergou através de mim.

20 de novembro de 2016

O que é meu não é meu.

13 de dezembro de 2016

Minhas melhores despedidas foram longas e parceladas. Um dia um beijo, outro dia um abraço, e por último um aperto de mão. Um adeus de cada vez.
O lugar não existia até eu estar lá. 10 de janeiro de 2017

Minhas melhores despedidas foram longas e parceladas. Um dia um beijo, outro dia um abraço, e por último um aperto de mão. Um adeus de cada vez.

3 de janeiro de 2017

O lugar não existia até eu estar lá.

10 de janeiro de 2017

Não são silhuetas. São pessoas. 14 de fevereiro de 2017
Puxou o ar com força até encher seus pulmões com espanto. 9 de março de 2017

Não são silhuetas. São pessoas.

14 de fevereiro de 2017

Puxou o ar com força até encher seus pulmões com espanto.

9 de março de 2017

uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta

uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta

17 de março de 2017

O trem estava cheio. A estação estava cheia. A cidade estava cheia. Não havia ninguém lá além de mim mesmo. 24 de março de 2017

O trem estava cheio. A estação estava cheia. A cidade estava cheia. Não havia ninguém lá além de mim mesmo.

24 de março de 2017

Parei e olhei para saber do que o mundo era feito. 29 de março de 2017

Parei e olhei para saber do que o mundo era feito.

29 de março de 2017

Não era uma árvore. Era uma raiz. 30 de março de 2017
É como mergulhar. Você se sente leve, mas enxerga embaçado. Tudo fica lento, a luz do sol, diferente. Você precisa respirar...

Não era uma árvore. Era uma raiz.

30 de março de 2017

É como mergulhar. Você se sente leve, mas enxerga embaçado. Tudo fica lento, a luz do sol, diferente. Você precisa respirar, dá um aperto na garganta. E quanto sobe até a superfície para tomar ar, esquece que esteve lá.

3 de abril de 2017

Daqui de cima as pessoas são paisagens. 30 de abril de 2017
Eu vi estrelas em sua face. 5 de maio de 2017

Daqui de cima as pessoas são paisagens.

30 de abril de 2017

Eu vi estrelas em sua face.

5 de maio de 2017

Um dia troquei olhares com uma ciclista pela janela do carro. Ela parecia concentrada. Observei-a na rua fluindo entre o trânsito...

Um dia troquei olhares com uma ciclista pela janela do carro. Ela parecia concentrada. Observei-a na rua fluindo entre o trânsito até perdê-la de vista. Restou apenas o semáforo fechado, motores ligados e o cheiro de óleo queimado.

18 de junho de 2017

PF

16 de fevereiro de 2016

A inspiração que veio do movimento

Fevereiro de 2016

A viagem à Europa me ajudou um bocado a entender melhor meus sentimentos. O diário escrito e o perfil no Instagram estavam funcionando e atendendo às minhas necessidades expressivas. Porém, o retorno à cidade de Campinas e, principalmente, voltar à casa onde morava, mostrou que não restava muito a fazer, exceto planejar uma ação mais enérgica de movimento. Continuar no mesmo local que morava há 10 anos não contribuía em nada, e por isso, em fevereiro de 2016, parti rumo à cidade de São Paulo.

Passo 23 de dezembro de 2016

Passo

23 de dezembro de 2016

O processo de transição foi relatado em meu diário com quatro imagens publicadas nos quatro últimos dias que morei em Campinas.

As publicações foram inspiradas nos quatro princípios da espiritualidade indiana, de autor desconhecido. Essas “leis”, compartilhadas nas redes sociais por uma amiga, acabaram se tornando um mantra de superação e aceitação para o meu processo de cura e tê-las registradas no diário fotográfico relembram uma etapa importante, dura e necessária, onde somente o movimento importava.

Hoje, elas fazem parte da minha meditação diária.

A pessoa que vem é a pessoa certa. 10 de fevereiro de 2016
Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido. 11 de fevereiro de 2016

A pessoa que vem é a pessoa certa.

10 de fevereiro de 2016

Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido.

11 de fevereiro de 2016

Toda vez que iniciar algo é o momento certo. 12 de fevereiro de 2016
Quando algo termina, termina. 13 de fevereiro de 2016

Toda vez que iniciar algo é o momento certo.

12 de fevereiro de 2016

Quando algo termina, termina.

13 de fevereiro de 2016

Recordo que ao chegar a São Paulo, tive a sensação de ser engolido pela cidade. Pela grandeza, pelas largas avenidas e suas esquinas, pela multidão viva que compartilhava o mesmo espaço que eu, pela rapidez com que tudo acontecia. A minha busca por movimento encontrava lugar na cidade brutal e, ao mesmo tempo, calorosa. São Paulo transformou para sempre minha pessoa e meu olhar.

E justamente esse foi um dos pontos mais produtivos do diário fotográfico. Havia imagens e palavras de sobra para expressar meus dias na nova morada. Um prato feito, o metrô lotado, prédios ocupados, pessoas nas ruas. Não importa(va). Cada canto da cidade me inspirava a ver e reler seu significado com os olhos inocentes de uma criança.

Ponto de fuga 2 de março de 2016

Ponto de fuga

2 de março de 2016

Temperos, cheiros, cores, sabores, amores. 12 de junho de 2016
O teto da minha casa é colorido. 24 de agosto de 2016

Temperos, cheiros, cores, sabores, amores.

12 de junho de 2016

O teto da minha casa é colorido.

24 de agosto de 2016

Desencontros 9 de setembro de 2016
Ciclo 17 de setembro de 2016

Desencontros

9 de setembro de 2016

Ciclo

17 de setembro de 2016

Quarentena 17 de novembro de 2016
Não é um lago. É um oceano. 18 de janeiro de 2017

Quarentena

17 de novembro de 2016

Não é um lago. É um oceano.

18 de janeiro de 2017

Há histórias para ouvir em lugares dentro de nós. 19 de janeiro de 2017

Há histórias para ouvir em lugares dentro de nós.

19 de janeiro de 2017

Entradas e saídas.

8 de março de 2017

A segunda grande viagem

Março de 2017

A mudança para São Paulo me deu energia para continuar e querer explorar mais. A cidade me instigou a conhecer mais o planeta e me incentivou a desengavetar antigos projetos: em março de 2017 escolhi passar um mês no Japão, o país mais distante que poderia visitar em toda a minha vida.

As regras para publicar as imagens dessa viagem permaneciam as mesmas: uma imagem por dia, todas feitas pelo celular, acompanhada por um texto, frase ou citação que representasse o principal sentimento do dia.

No entanto, uma imagem diária e pequenos textos não contemplavam o tanto que havia para ser dito durante minha estada no Japão. Assim, decidi escrever mais e publicar mais. Os relatos inteiros podem ser encontrados em álbuns fotográficos disponíveis em meu site, produzidos com meu equipamento profissional. Lá, é possível encontrar pequenos recortes das histórias e das minhas vivências por lá, cada uma com personagens e locais característicos.

JAPÃO: MIL PORTAS

QUIOTO, JAPÃO, 2017

 

(em breve)

JAPÃO: ANTÍPODA

URASOE, JAPÃO, 2017

 

(em breve)

No Instagram foram publicadas 29 imagens durante minha estada na terra do sol poente. Os sentimentos transitaram entre a completa solidão e medo à descoberta e reconexão.

O Japão foi um dos lugares onde mais me senti isolado dentre todas as minhas viagens e foi lá também onde eu me encontrei mais vezes. A cada dia, minhas máscaras e facetas caíam e, ao final, esbarrei com meu âmago, intocado e puro. Meu melhor e o meu pior estavam diante de mim despidos de qualquer convenção ou julgamento.

Quando me disseram que ao visitar a Ásia eu faria uma viagem espiritual, esperava um local sagrado cheio de gurus com frases de efeito e dicas de autoajuda. Porém, minha viagem espiritual foi o encontro com meu antagonista ao me olhar no espelho. Não havia nada de bonito lá, mas era necessário conhecer fielmente esse Danilo que nunca tinha ouvido falar.

O estranho sou eu. 5 de março de 2017

O estranho sou eu.

5 de março de 2017

Fantasmas 11 de março de 2017

Fantasmas

11 de março de 2017

Um punhado de talvezes. 12 de março de 2017

Um punhado de talvezes.

12 de março de 2017

Uma rápida visita ao inferno. 27 de março de 2017

Uma rápida visita ao inferno.

27 de março de 2017

Abril de 2017

Depois de um mês no Japão, parti para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde encontraria meu irmão e minha irmã.

Essa pausa na América do Norte deu um impacto enorme ao meu diário.

Se em um momento estava discursando sobre pequenas nuances do espírito no Japão, em questão de dias, já estava mergulhado em um país regido pelo consumo e um contexto permeado de discussões familiares, sentimentos e opiniões diferentes vindas de pessoas que estavam ao meu lado desde o dia em que nasci. Foi a etapa mais desafiadora dessa viagem.

Do período em que estive no continente norte-americano foram 31 imagens publicadas, feitas em seis cidades, representando os mais conflitantes sentimentos de angústia e provocação.

Cercas 2 de abril de 2017

Cercas

2 de abril de 2017

Nada é simples. 8 de abril de 2017

Nada é simples.

8 de abril de 2017

Uma luta e uma máscara por dia. 14 de abril de 2017

Uma luta e uma máscara por dia.

14 de abril de 2017

devemos trazer nossa própria luz à escuridão. ninguém fará isso por nós. - Bukowski 24 de abril de 2017

devemos trazer

nossa própria luz

à

escuridão.

 

ninguém fará

isso

por nós. - Bukowski

24 de abril de 2017

Não dá para querer pelo outro.

3 de julho de 2017

O começo do fim

Maio de 2017

Depois de dois meses fora de casa, ao retornar ao Brasil em maio de 2017, encontrei-me completamente perdido no meu dia a dia. Sentimentos difusos e a busca por aprovação aumentaram cada vez mais.

Meu perfil no Instagram se tornou um método barato em busca de likes e flertes de segunda categoria. Com o advento dos stories, possibilitando a publicação de “momentos” que ficavam no ar por apenas 24h, acabei me consagrando como o confeiteiro de cookies e churros para alguns seguidores, já que passava várias horas na cozinha registrando minhas receitas. Apesar disso, não deixei de percorrer meus sentimentos por meio da fotografia e, depois de meu retorno, ainda publiquei outras 136 imagens em dias esporádicos. Algumas com um bom teor de lucidez, outras levadas pelas tendências das redes sociais em angariar mais seguidores. Transitava constantemente entre o ego e a reflexão.

Somente seis meses após a minha volta, publiquei minha última foto e comecei o processo de encerramento da minha conta no Instagram. Terminei com uma imagem acompanhada por uma citação de Charles Bukowski.

É sempre bom saber que você pode viver sem uma pessoa que julgava jamais ser capaz de viver sem. - Bukowski 7 de novembro de 2017

É sempre bom saber que você pode viver sem uma pessoa que julgava jamais ser capaz de viver sem. - Bukowski

7 de novembro de 2017

Novembro de 2017

É nesse ponto que o diário fotográfico perde seu propósito original. Ao que tudo indica, pessoalmente, havia esgotado todas as possibilidades após 634 imagens divulgadas, acompanhadas de textos, em sua maioria sinceros, mas nem sempre autênticos.

Durante sua produção, o diário me serviu bem. Permitiu que eu aprendesse melhor a ouvir meus sentimentos e descobrisse como traduzi-los na linguagem fotográfica. Aprendi muito sobre o funcionamento das redes sociais e os comportamentos nocivos que estão ao seu redor.

Minhas próprias regras já não me satisfaziam mais, nem havia desejo para tal ou para que eu criasse novas. Eu me bastava sem as publicações diárias. E aparentemente as redes sociais se bastavam sem minhas fotografias. Senti que o diário deveria morrer: eu o encaminhei à luz e simplesmente cessei minhas publicações.

No curso de encerramento foram publicadas outras 24 fotografias sem nenhuma legenda. A cada uma dessas imagens, num processo de clareamento do registro, o perfil foi se apagando. Uma despedida parcelada, lenta, gradual.

Curiosamente, alguns amigos me perguntavam se o perfil estava com problemas, ou se o celular estava carregando as imagens incorretamente.

Pois é, a chegada do fim nem sempre é percebida com clareza. Quando você não se dá conta, termina.

As 24 imagens de encerramento do diário.

De val van Icarus

Pieter Bruegel, 1565

“No plough stops for the dying man”

Janeiro de 2018

Durante a escrita desse texto de encerramento cheguei a várias conclusões sobre o processo e os resultados dessa pequena brincadeira que se transformou num projeto. Mas uma delas ainda me deixava inquieto: para quê serviu toda essa história e por que ela merece ser contada?

Semanas atrás esbarrei ao acaso com uma possível resposta lendo um artigo sobre a obra “Paisagem com a queda de Ícaro” de Pieter Bruegel. O artista, na época fortemente influenciado pela tradição oral, se inspirou no provérbio “No plough stops for the dying man” - “Nenhum arado se detém pelo homem que morre”, em tradução livre.

Ícaro, brilhantemente representado por Bruegel mostra que, apesar de errar ao voar muito próximo do sol, nada no mundo se afetou por conta disso, ninguém se importou com sua dor particular, a colheita não cessou e todos seguiram com suas vidas.

O diário, apesar de retratar minhas dores e algumas de minhas conquistas, de nada serviu para que eu encontrasse apoio naqueles que me seguiam nas redes sociais. Minhas batalhas eram minhas e de ninguém mais.

As redes sociais possuem um hábito de expor vidas pessoais recheadas de imagens meticulosamente produzidas, numa competição para saber quem é mais saudável, quem está na melhor festa ou quem está fazendo a viagem mais legal. Ao registrar e compartilhar esses momentos plásticos, o mundo real se esvazia de significado diante de nossos olhos, pois nada se equipara à grama do vizinho. É muito fácil se perder na rotina por aprovação virtual.

Encerrar esse projeto fez com que eu diminuísse drasticamente minhas participações nas redes, limitando minhas postagens apenas à questões relacionadas ao meu trabalho, atitude essa que acabou gerando algumas dúvidas de meus seguidores que ainda me perguntam o porquê de estar “sumido”. Parece que o fato de não publicar mais nas redes significa que eu não existo mais.

Não existo nem mais nem menos do que existia quando postava diariamente. Lá atrás, ao legendar uma foto com “Sempre centro”, estava claro que eu tinha muito para dizer. Como uma criança ansiosa que balbucia suas primeiras palavras, busquei proteção, aprovação, mimos. Mergulhei da superfície ao fundo várias vezes, e muitas delas sem o oxigênio necessário. Perdi, encontrei e principalmente, aprendi. Na fotografia e na escrita descobri processos que desabrocharam novas percepções de minha existência. Nenhuma colheita cessou por isso. E, cá entre nós, talvez quem tenha colhido mais frutos durante todo esse processo tenha sido eu mesmo.

Ainda tenho muito a dizer, mas agora, um pouco mais maduro, parco, sereno.

Ainda tenho muito a dizer.

O ciclo se completa quando tem

alguém

para

ouvir.

Alguns dados interessantes

Início:

Fim:

Postagens:

Likes:

Comentários:

Seguidores:

6 / jan / 2015

1º / dez / 2017

634

18.650

523

681

As três postagens com mais likes:

Sync 23 de julho de 2017

Sync

23 de julho de 2017

131 likes

Nublar a cidade. 2 de outubro de 2017

Nublar a cidade.

2 de outubro de 2017

116 likes

Bastidores 26 de junho de 2017

Bastidores

26 de junho de 2017

105 likes

Um agradecimento especial aos irmãos Ana Gaviolli e Lincon Guassi. Sem o apoio e a presença de vocês essa travessia não seria possível. Amor genuíno por ter vocês dois em minha vida. Simplesmente, obrigado.

Irmã 7 de outubro de 2017
Irmão 10 de julho de 2016

Irmã

7 de outubro de 2017

Irmão

10 de julho de 2016

Publicado em 22 de fevereiro de 2018.

 

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Eis o famoso céu de Brasília. 19 de janeiro de 2015
Campeonato internacional de strogonoff. Adivinha quem ganhou? 24 de janeiro de 2015
Selfie-ish 27 de fevereiro de 2015
Larica da madrugada. 22 de março de 2015
Sempre centro 23 de março de 2015
Mergulha 20 de abril de 2015
Capítulo 10 de junho de 2015
Passagem 28 de junho de 2015
Aqui é lá. 7 de julho de 2015
Partir é chegar. 12 de julho de 2015
Volta 13 de julho de 2015
O fim é o começo. 14 de julho de 2015
Queria poder um dia caminhar entre poesia. 7 de maio de 2016
Os poros foram feitos para nos lembrar dos toques. 11 de junho de 2016
Enquanto isso chovia lá fora. 24 de julho de 2016
Aguardou por um longo tempo o trem chegar, mas decidiu não embarcar. 27 de julho de 2016
Sentiu sobre sua cabeça uma nuvem tão pesada que começou a chover antes das gotas caírem. 4 de agosto de 2016
Entrou e olhou com calma cada detalhe. Deu carinho, cuidou, catalogou. Viu o que era importante e relembrou. Vestiu roupas velhas...
São os lugares que escrevem as nossas histórias. 6 de novembro de 2016
Uma linha de concreto cortou o céu. 7 de novembro de 2016
E então ela enxergou através de mim. 20 de novembro de 2016
O que é meu não é meu. 13 de dezembro de 2016
Minhas melhores despedidas foram longas e parceladas. Um dia um beijo, outro dia um abraço, e por último um aperto de mão. Um adeus de cada vez.
O lugar não existia até eu estar lá. 10 de janeiro de 2017
Não são silhuetas. São pessoas. 14 de fevereiro de 2017
Puxou o ar com força até encher seus pulmões com espanto. 9 de março de 2017
uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta abre uma porta
O trem estava cheio. A estação estava cheia. A cidade estava cheia. Não havia ninguém lá além de mim mesmo. 24 de março de 2017
Parei e olhei para saber do que o mundo era feito. 29 de março de 2017
Não era uma árvore. Era uma raiz. 30 de março de 2017
É como mergulhar. Você se sente leve, mas enxerga embaçado. Tudo fica lento, a luz do sol, diferente. Você precisa respirar...
Daqui de cima as pessoas são paisagens. 30 de abril de 2017
Eu vi estrelas em sua face. 5 de maio de 2017
Um dia troquei olhares com uma ciclista pela janela do carro. Ela parecia concentrada. Observei-a na rua fluindo entre o trânsito...
Passo 23 de dezembro de 2016
A pessoa que vem é a pessoa certa. 10 de fevereiro de 2016
Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido. 11 de fevereiro de 2016
Toda vez que iniciar algo é o momento certo. 12 de fevereiro de 2016
Quando algo termina, termina. 13 de fevereiro de 2016
Ponto de fuga 2 de março de 2016
Temperos, cheiros, cores, sabores, amores. 12 de junho de 2016
O teto da minha casa é colorido. 24 de agosto de 2016
Desencontros 9 de setembro de 2016
Ciclo 17 de setembro de 2016
Quarentena 17 de novembro de 2016
Não é um lago. É um oceano. 18 de janeiro de 2017
Há histórias para ouvir em lugares dentro de nós. 19 de janeiro de 2017
O estranho sou eu. 5 de março de 2017
Fantasmas 11 de março de 2017
Um punhado de talvezes. 12 de março de 2017
Uma rápida visita ao inferno. 27 de março de 2017
Cercas 2 de abril de 2017
Nada é simples. 8 de abril de 2017
Uma luta e uma máscara por dia. 14 de abril de 2017
devemos trazer nossa própria luz à escuridão. ninguém fará isso por nós. - Bukowski 24 de abril de 2017
É sempre bom saber que você pode viver sem uma pessoa que julgava jamais ser capaz de viver sem. - Bukowski 7 de novembro de 2017
Sync 23 de julho de 2017
Nublar a cidade. 2 de outubro de 2017
Bastidores 26 de junho de 2017
Irmã 7 de outubro de 2017
Irmão 10 de julho de 2016